terça-feira, 26 de julho de 2016

Comentários sobre o livro: "Fazes-me falta", de Inês Pedrosa






Fazes-me falta é um livro narrado por duas vozes: um homem e uma mulher que se amaram. Amaram-se no passado pois a mulher morreu jovem, aos 37 anos, e o que restou são essas vozes: ele como sobrevivente e que sente a falta dela, ela agora sem corpo, mas que permance vendo tudo. Os capítulos se alternam entre ele e ela (ambos sem nome, ele a chamava de Sininho), a pensar no passado, no que viveram, no que não puderam ser um para o outro. Traz as crenças, as convicções, as manias de cada um, as lembranças do passado. Apesar de não estarem mais juntos, com a morte dela, ambos se vêem interligados, formando um grande elo difícil de ser quebrado ou superado. A morte trouxe a sensação de impotência, de erro, de não ter feito o melhor enquanto havia tempo, fazendo parecer todas as coisas que os separaram em vida apenas bobagens.

Este romance português é escrito em uma prosa poética, densa, com muitas palavras e expressões típicas do português de Portugal, portanto, de difícil avanço. Li várias críticas falando bem do livro e da escrita de Inês Pedrosa. Sim, ela é uma escrita bela e um tanto rebuscada, mas não me fisgou muito, fiquei me arrastando para terminar a leitura. Mas é interessante que se conheça a autora e esse estilo de narrativa, foge dos clichês romanticos de senso comum. Ou talvez era eu, que li no momento errado da vida; sabe como é, os livros são sempre diferentes em cada momento que o lemos, não que eles mudem, mas somos nós quem mudamos e o lemos com outros olhos.

Uma pequena amostra do que o livro reserva a seu leitor:


"A dor precisa de um corpo. Limites de pele, unhas, ranho, suor. A incapacidade de sair, a coragem irremediável de viver o tempo. Paciência, peso, cérebro ardendo."

 "Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver. Concentra-te na felicidade, para que eu possa existir nela ainda contigo."

"Quando tu vivias, eu podia acreditar na alma, lama, mala interestelar, o caraças que tu quisesses. Porque a gente olhava para ti e via essa coisa transparente e firme, esse nó de sangue, secreções e luz a pulsar como um farol. [...] Fazes-me falta, merda - já te disse?"

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Comentários sobre o livro "Todos nós adorávamos caubóis"






Esse livro foi, sim, escolhido pela capa. Eu amei essa capa. E amo os livros da Companhia das Letras. Então já foi suficiente para começar a leitura, e as 192 páginas foram devoradas em dois dias. 

Todos nós adorávamos caubóis é uma road novel, ou seja, uma história que se passa em uma viagem, escrita pela Carol Bensimon. Se você já assistiu Thelma & Louise vai saber do que eu estou falando.  Cora (a narradora) e Júlia finalmente conseguem realizar um sonho de anos atrás: viajar por cidadezinhas "nada interessantes" do interior do Rio Grande do Sul. 
A narrativa alterna o presente (a viagem) e o passado entre as duas garotas, que se conheceram na faculdade, tiveram um relacionamento e acabaram se separando por circunstâncias e escolhas da vida.  Algum tempo depois, elas voltam a se falar e combinam a tão sonhada viagem, sem saber o que ela pode reservar para as duas, que já não tinham mais contato.

A maneira como a Carol Bensimon escreve é deliciosa, e transforma uma história simples em algo a ser deleitado. A temática entre um relacionamento homossexual entre duas mulheres também era algo incomum nas minhas leituras (não me recordo de ter lido algum livro que tratava sobre, exceto A cor púrpura, leitura que comecei e não finalizei). O livro vai se desenvolver ao redor do conflito psicológico da nossa narradora Cora, seus medos, sentimentos e inseguranças; suas atitudes e formas de lidar com a vida e com as situações. Além de fornecer a nós, leitores, belas descrições dos lugares por onde passam essas duas viajantes em busca de um resgate ao passado, em busca de um possível futuro?

Recomendo a leitura e a escritora, que em 2012 foi selecionada como uma dos 20 melhores jovens escritores brasileiros, de acordo com a revista britânica Granta.



domingo, 10 de julho de 2016

Filme: Em nome de Deus


Mais um filme assistido no nosso queridinho Netflix. Em nome de Deus é daqueles filmes que revoltam, que questionam, que amargam. Quantas atrocidades foram feitas em nome de Deus? 
Essa história se passa na década de 60, na Irlanda, e conta a vida de quatro mulheres que foram levadas a um convento por seus familiares, a fim de purificar suas almas. Qual o crime/pecado delas?
Margaret foi estuprada por seu primo em uma festa de casamento (SIM, esse foi seu pecado, ser vítima de estupro)! Bernadette morava em um orfanato, e foi levada a esse convento por representar um perigo para os homens por sua beleza e seus modos. Rose e Crispina: mães solteiras. Lá, nesse lugar, elas eram obrigadas a obedecer em tudo as "irmãs religiosas", a trabalharem como escravas lavando e passando roupas, tudo isso sem dizer uma palavra, sem conversar umas com as outras durante o trabalho ou refeições, sofrendo humilhações e castigos físicos e psicológicos. E sim, os próprios pais as levavam para esse lugar, por terem envergonhado a família por seus pecados, e as abandonavam lá, sem considerá-las mais como filhas. 
O filme se baseia em fatos reais, estima-se que cerca de 30 mil mulheres na Irlanda tenham sido levadas a locais como esse, mantidos por religiosas da Igreja Católica, e apenas na década de 90 esses lugares foram abolidos. 
Freiras, carrascas, zombeteiras, religiosas que se aproveitam da sua posição na sociedade cega para fazer coisas em Nome de Deus, mas coisas que o próprio Deus da religião cristã jamais aprovaria. Como medir tamanha hipocrisia? 
Como aceitar uma sociedade que pune as mulheres, por serem motivo da perdição dos homens, pois são fracos? E então, elimina-se o mal pela raiz: tira-se do caminho essas mulheres que são motivos de perdição das almas dos homens, e assim, salvam-se todos. Escravizam-nas e colocam-nas nos mais cruéis sofrimentos, desumanizando essas vidas. 
Sou cristã, e continuo sendo. E sei que é triste demais ver tantas coisas inaceitáveis na história de uma religião. Mas acredito e espero acreditar que isso não tenha a ver com religião, que isso tenha a ver com pessoas ruins que se utilizam de máscaras e posições sociais para praticar suas maldades. Em todas as religiões existem coisas inaceitáveis: vemos aos montes extremistas islâmicos que matam em nome de Alá. E o islamismo é ruim por conta disso? Não. Penso que a intenção e a essência das religiões seja o amor (pelo menos Jesus Cristo pregou o amor acima de tudo). Mas muitos homens insistem em fazer coisas terríveis em nome de Deus, como se Deus brincasse de xadrez, onde nós fôssemos as peças. 
Filmes assim nos levam a pensar sobre o que é aceitável. Sobre como devemos olhar as aberrações feitas no passado e lutar para que elas não se repitam. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Comentários sobre o livro "A obscena senhora D", de Hilda Hilst

O que falar dessa leitura?



A senhora Hillé, ou senhora D, D de Derrelição (abandono, como a chamava seu amado Ehud) é uma mulher de uns sessenta anos com uma boca suja e tanto, que eu A-D-O-R-E-I. 

A narrativa é construída pelo fluxo de consciência da Senhora D. em um ritmo frenético. Louco. Com diálogos com o amante/marido? morto, com os vizinhos que a odeiam, com mais alguém na sua casa que não nos é dado conhecer. Apesar de curto, o livro é denso, visceral. A vida, para ela:

                     "foi uma aventura obscena, de tão lúcida"

Senhora D., que habita o vão da escada de sua casa, nos faz entrar nesse seu estranho mundo de diálogos com o defunto sobre o passado, sobre a vida, sobre Deus e os mistérios de sua existência, sobre sexo... E tudo nos leva a crer que perdeu a lucidez? Mas será mesmo? Perdeu a lucidez ou perdeu a vontade do agora? Perdeu-se no passado e nas recordações? Perdeu-se na fé, na nostalgia do sentir? Perdeu-se nas perguntas sem respostas?

Ehud, sempre querendo que Hillé lhe preparasse uma xicara de café. Hillé sempre ocupada com sua lingua frenética, com suas perguntas incessantes. 


“Senhora D, a viva compreensão da vida é segurar o coração. me faz um café.”


Desconfortável, atingida pela escrita pontiaguda de Hilda Hilst, foi como me senti ao terminar este livro. E já com vontade de fazer uma releitura, é tanto para absorver nessa pequena-gigante edição da Coleção da Folha, com 52 páginas da mais pura qualidade.
E fica um gostinho:


 “Por que o ouro é ouro? Por que o dinheiro é dinheiro? Por que me chamo Hillé e estou na Terra? E aprendi o nome das coisas, das gentes, deve haver muita coisa sem nome, milhares de coisas sem nome, e nem porisso elas deixam de ser o que são, eu se não fosse Hillé seria quem? Alguém olhando e sentindo o mundo.”



domingo, 3 de julho de 2016

Tag 50%

Metade do ano já se foi, e aqui vai um pequeno balanço das leituras realizadas, por meio da TAG 50%, criada pelo canal Read Like Wild Fire.

01. O Melhor livro que você leu, até agora, em 2016
Admirável mundo novo – Aldous Huxley


02. A Melhor Continuação Que Você Leu até Agora

Não costumo ler livros em série. A única continuação que li foi “Vá, coloque um vigia”, continuação de “O sol é para todos”, da Harper Lee. E foi um tanto quanto decepcionante.


03. Um Lançamento do Primeiro Semestre que Você Ainda Não Leu, Mas Quer Muito

Menina Má – William March


04. O Livro Mais Aguardado do Segundo Semestre

Sinceramente, não sei quais serão os próximos lançamentos editoriais...


05. O Livro Que Mais Te Decepcionou Esse Ano

O Amante – Marguerite Duras


06. O Livro Que Mais Te Surpreendeu Esse Ano

Vermelho amargo – Bartolomeu Campos de Queiróz




07. Novo Autor Favorito (Que lançou seu primeiro livro nesse primeiro semestre ou que você tenha conhecido nesse período)

João Carrascoza – em “Caderno de um ausente”


08. A Sua Quedinha por personagem fictício mais recente

O Léo, do livro “@mor” e “Emmi & Leo” – Daniel Glattauer



09. Seu Personagem Favorito Mais Recente

John Jacob Turnstile - O garoto no convés – John Boyne


10. Um Livro Que Te Deixou Feliz Nesse Primeiro Semestre

Amor em minúscula – Francesc Miralles



11. Um livro que te fez chorar neste primeiro semestre

A contadora de filmes –Hernan R. L.


12. Melhor adaptação literária que você assistiu até agora

A Festa de Babette – Karen Blixen


13. Qual sua resenha favorita deste primeiro semestre, escrita ou em vídeo

Resenha de Lolita, feita pela Mell Ferraz (Literature-se)



14. O livro mais bonito que você comprou ou ganhou nesse ano

O tigre branco – Aravind Adiga



15. Quais livros você precisa ou quer muito ler até o final do ano.

Váaaaarios, tipo:
- Os pescadores – Chigozie Obiama
- Almoço nu – William S. Burroughs
- Stoner – John Williams
- Vozes de Tchernobil – Svetlana Alexievich
(esse ainda não tenho, estou aceitando de presente, rs)

É isso, um grande abraço!!!