Fazes-me falta é um livro narrado por duas vozes: um homem e uma mulher que se amaram. Amaram-se no passado pois a mulher morreu jovem, aos 37 anos, e o que restou são essas vozes: ele como sobrevivente e que sente a falta dela, ela agora sem corpo, mas que permance vendo tudo. Os capítulos se alternam entre ele e ela (ambos sem nome, ele a chamava de Sininho), a pensar no passado, no que viveram, no que não puderam ser um para o outro. Traz as crenças, as convicções, as manias de cada um, as lembranças do passado. Apesar de não estarem mais juntos, com a morte dela, ambos se vêem interligados, formando um grande elo difícil de ser quebrado ou superado. A morte trouxe a sensação de impotência, de erro, de não ter feito o melhor enquanto havia tempo, fazendo parecer todas as coisas que os separaram em vida apenas bobagens.
Este romance português é escrito em uma prosa poética, densa, com muitas palavras e expressões típicas do português de Portugal, portanto, de difícil avanço. Li várias críticas falando bem do livro e da escrita de Inês Pedrosa. Sim, ela é uma escrita bela e um tanto rebuscada, mas não me fisgou muito, fiquei me arrastando para terminar a leitura. Mas é interessante que se conheça a autora e esse estilo de narrativa, foge dos clichês romanticos de senso comum. Ou talvez era eu, que li no momento errado da vida; sabe como é, os livros são sempre diferentes em cada momento que o lemos, não que eles mudem, mas somos nós quem mudamos e o lemos com outros olhos.
Uma pequena amostra do que o livro reserva a seu leitor:
"A dor precisa de um corpo. Limites de pele, unhas, ranho, suor. A incapacidade de sair, a coragem irremediável de viver o tempo. Paciência, peso, cérebro ardendo."
"Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver. Concentra-te na felicidade, para que eu possa existir nela ainda contigo."
"Quando tu vivias, eu podia acreditar na alma, lama, mala interestelar, o caraças que tu quisesses. Porque a gente olhava para ti e via essa coisa transparente e firme, esse nó de sangue, secreções e luz a pulsar como um farol. [...] Fazes-me falta, merda - já te disse?"