O que falar dessa leitura?
A senhora Hillé, ou senhora D, D de Derrelição (abandono, como a chamava seu amado Ehud) é uma mulher de uns sessenta anos com uma boca suja e tanto, que eu A-D-O-R-E-I.
A narrativa é construída pelo fluxo de consciência da Senhora D. em um ritmo frenético. Louco. Com diálogos com o amante/marido? morto, com os vizinhos que a odeiam, com mais alguém na sua casa que não nos é dado conhecer. Apesar de curto, o livro é denso, visceral. A vida, para ela:
"foi uma aventura obscena, de tão lúcida"
Senhora D., que habita o vão da escada de sua casa, nos faz entrar nesse seu estranho mundo de diálogos com o defunto sobre o passado, sobre a vida, sobre Deus e os mistérios de sua existência, sobre sexo... E tudo nos leva a crer que perdeu a lucidez? Mas será mesmo? Perdeu a lucidez ou perdeu a vontade do agora? Perdeu-se no passado e nas recordações? Perdeu-se na fé, na nostalgia do sentir? Perdeu-se nas perguntas sem respostas?
Ehud, sempre querendo que Hillé lhe preparasse uma xicara de café. Hillé sempre ocupada com sua lingua frenética, com suas perguntas incessantes.
“Senhora D, a viva compreensão da vida é segurar o coração. me faz um café.”
Desconfortável, atingida pela escrita pontiaguda de Hilda Hilst, foi como me senti ao terminar este livro. E já com vontade de fazer uma releitura, é tanto para absorver nessa pequena-gigante edição da Coleção da Folha, com 52 páginas da mais pura qualidade.
E fica um gostinho:
“Por que o ouro é ouro? Por que o dinheiro é dinheiro? Por que me
chamo Hillé e estou na Terra? E aprendi o nome das coisas, das gentes,
deve haver muita coisa sem nome, milhares de coisas sem nome, e nem
porisso elas deixam de ser o que são, eu se não fosse Hillé seria quem?
Alguém olhando e sentindo o mundo.”
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