domingo, 9 de outubro de 2016

Comentários sobre o livro: "O vôo da guará vermelha"


Boa descoberta ao acaso define bem o encontro com esse livro, que lá da prateleira do sebo me fisgou, piscou pra mim e não teve jeito, levei. Li, amei. A autora tem uma escrita simplesmente maravilhosa, poética, cativante e envolvente. Os dois protagonistas nos cativam com suas histórias, suas realidades. Rosálio e Irene. O primeiro, pedreiro. A segunda, prostituta infectada pela Aids. Características essas simplistas demais para demonstrar a complexidade de cada um. Ambos se encontram um dia. Rosálio precisava de alguém que o ouvisse, e  Irene buscava alguém que a desejasse de verdade. E desde o primeiro encontro, um demonstrou a possibilidade de completar aquilo que faltava no outro. Rosálio sonhava em ler e escrever, desde pequeno, mas a vida foi ingrata com ele sem nunca ensiná-lo. O que ele tinha era amor pelas histórias, e histórias reais e inventadas que faziam completar a vida já sem esperança de pessoas como a Irene. Irene sabia ler e escrever, e pôde realizar o sonho de Rosálio. Quase todos os dias eles se encontravam, Irene o ensinava a escrita e Rosálio a agradecia com suas histórias. E assim a vida cinza dos dois foi ganhando cor, preenchida a cada capítulo por títulos como: cinzento e encarnado, roxo e branco, vermelho e prata, azul e amarelo. Muito bonito de ver como é dado valor na palavra, nas narrativas orais e também nas escritas, em como é possível vidas e mundos inteiros se transformarem com a mágica das palavras. Uma ode à literatura, às histórias e à educação.

Maria Valéria Rezende foi um presente muito bom nesse ano, deixando um gostinho de quero mais com suas palavras:

"Enquanto eu era pequeno, não sabia que era triste a minha vida, nãp imaginava outra e por isso não podia saber da minha desgraça. Pois a desgraça é assim, se a gente não sabe nem fala que ela está ali presente, ela quase não existe e já depois que se disse ainda é preciso tempo, contar tudo muitas vezes, pra poder pegar o jeito de se sentir infeliz."

"não diga tanta besteira que o amor não é assim, o amor é como menino que não sabe fazer contas nem de perda nem de ganho, vive descautelado, não tem lei, não tem juízo, não se explica nem se entende, é charada e susto, mistério. "

"Rosálio atende, contente, o pedido da mulher, porque relembrar sua vida lhe permite reviver, agora sem dor, de longe, as coisas que aconteceram e descobrir seus sentidos, cada vez vendo mais fundo o mundo como ele é."

domingo, 2 de outubro de 2016

Livro: "O coração das trevas"e o filme "Apocalypse now"






O livro O coração das trevas faz parte da coleção da Folha, Grandes Nomes da Literatura. Na semana em que chegou a mim, resolvi fazer a leitura, pois além de ser um livro curtinho (111p.), o autor (Joseph Conrad) foi considerado um dos caras pra se ler antes de morrer. E o resultado foi... que me arrastei bastante nessa leitura, demorei mais do que o planejado, não porque o livro era tão bom que me fizesse querer degustar cada palavra, mas num sentido não tão favorável. Na minha cabeça o autor prometeu tamanho horror em meio à selva, mas enquanto leitora não consegui chegar a esse nível de horror prometido. Então fui procurar o filme para assistir. Depois de muito pesquisar, encontrei em um Sebo da minha cidade. 
Apocalypse now é um filme de 1979, dirigido por Francis Ford Coppola e inspirado no livro O coração das trevas. O que diferencia o livro do filme é que o contexto do livro diz respeito à exploração de marfim e outros no continente africano, já o filme se contextualiza na Guerra do Vietnã. O filme vai contar a história do capitão Willard, que recebe uma missão secreta de encontrar o coronel Kurtz e matá-lo, sob o pretexto deste ter-se utilizado de métodos não humanos para matar, além de estar "descontrolado" psicologicamente. Ao longo de sua viagem em uma pequena embarcação pelo rio Nung, o capitão Willard vê muita insanidade e insensatez na Guerra do Vietnã. Vê tantas coisas horríveis que começa a se questionar sobre o motivo de sua missão para com o coronel Kurtz, que passou a ser considerado um deus pelos montanheses e nativos, que o adoravam e veneravam. 
A premissa do filme e do livro é realmente muito boa, questiona o que é ou não permitido em uma Guerra, o que é normal ou anormal, mostra o horror que o homem é capaz de fazer em um contexto de Guerra, em uma selva em que tudo pode acontecer. E nos faz uma indagação: Kurtz estava louco, insano ao se deixar permitir ser venerado pelos nativos? Seria mesmo ele o louco, esquecendo-se da loucura maior que era a Guerra? O quão irônica poderia ser essa missão que envolve a moral, mas o que é a moral em uma Guerra?
O filme em minha opinião foi bem melhor do que o livro (está aqui uma das exceções em que isso acontece). Mas, ainda assim, em meu míope olhar de leiga leitora e espectadora, faltou algo que eu não sei definir o que é. Mas é uma história que vale a pena ser conhecida.