Pode conter Spoilers!
E não é que os quadrinhos estão ganhando meu coração? O final de semana foi dedicado à leitura de Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi. Terminada a leitura da HQ, parti para o filme, Obviamente com relação à adaptação, houve algumas mudanças na história, porém não muito relevantes. A essência continuou a mesma, e ambos são maravilhosos e expressivos.
Para contextualizar a história, trago aqui a sinopse que encontrei no site Skoob:
Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Bom, em uma HQ de aproximadamente 350 páginas, e com o tempo de leitura aproximado de três horas, são abordados tantos assuntos que é difícil saber por onde começar. Mas comecemos:
Contexto político e social do Irã: Convenhamos. é muito difícil o entendimento da História dos países do Oriente Médio, do contexto e das guerras que foram e são vivenciadas até hoje. Marjane, nessa HQ quase autobiográfica consegue simplificar um pouquinho para nós a História do Irã, a revolução que teve início em 1979 e o regime xiita que foi implementado no país. Nascida nesse contexto, Marjane vai nos escancarar sua vida e de seus familiares, seu sonho por revolução, por liberdade, e toda a rotina que foi mudada com a Guerra e com o regime xiita. Isso implicou em milhares de mortos, de presos políticos - inclusive familiares próximos - em proibições das mais absurdas para ambos os sexos, mas claro, principalmente, para o sexo feminino. As mulheres foram proibidas de sair de suas casas sem usar um véu na cabeça (e usá-lo da maneira "correta", sem que apareçam nem um centímetro dos cabelos, pois estes chamam a atenção dos homens, podendo levá-los ao pecado!). As escolas separaram meninas de meninos; homens e mulheres não poderiam ser vistos juntos nas ruas, muito menos andar de mãos dadas ou fazer demonstrações de afeto se não fossem casados e não andassem com a Certidão de Casamento para provar isso. Tudo passou a ser feito e ensinado em nome da "fé", do extremismo, usando a vontade de Deus como desculpa para tantas coisas absurdas e abusivas, contrárias à liberdade, esta, já esquecida pelo povo iraniano. Festas e bebidas alcóolicas também foram proibidas, sendo presos quem os fizesse ou mantivesse em suas casas. Além disso, Marjane nos mostra a Guerra e suas consequências, as mentiras contadas pela mídia ao povo, a falta de alimentos nos supermercados, a necessidade de esconderijos subterrâneos que protegessem o povo das bombas e dos ataques aéreos, as milhares de mortes e de mártires da guerra, A pressão e os problemas eram tanto externos quanto internos, e muitas crianças foram separadas de seus pais para tentar viver em outros países em busca de melhores condições. Assim, Marjane foi mandada para a Áustria com apenas 14 anos, sozinha, em busca de um futuro melhor.
Sair de casa e viver longe da família/ na adolescência: Marjane teve essa experiência duas vezes. A primeira quando foi à Áustria, sem ter opção. As condições para uma adolescente no Irã eram péssimas. Marjane se viu sozinha em um país distante, tendo que se virar e fazer amizades. Aos poucos conheceu pessoas, teve namorados, usou drogas, se frustrou, foi expulsa de pensões e moradias, dormiu na rua, conheceu o fundo do poço. Soube voltar para casa, pedindo para que não fizessem perguntas. Receberam-na de braços abertos. Anos depois, quis voltar a viver fora, na França. Preparou-se pra isso, e já sabia que viver longe daqueles que se ama em busca da liberdade tem um preço (um preço alto - em sua despedida foi a penúltima vez que vira sua avó).
Mulheres na sociedade: Vi em uma entrevista com a autora que a intenção dela não era fazer uma história feminista, mas simplesmente contar a sua história. E como ela era mulher, sim, consequentemente mostrou as injustiças que viviam e ainda vivem as mulheres daquele país. Proibidas de mostrar os cabelos, de usar maquiagem, de fazer demonstrações em público, de participarem de festas, de consumir bebidas alcóolicas e por aí vai.
Mulheres, coragem e enfrentamento. Arrasou, Marjane! Já sou sua fã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário